O agronegócio se consolidou como um dos principais pilares da economia brasileira, respondendo por uma fatia significativa do Produto Interno Bruto (PIB) e sustentando o desenvolvimento do país. Segundo estimativas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o setor deve representar cerca de 29,4% de toda a economia nacional em 2025.
Apesar da relevância e dos bons indicadores de produção, como recordes na safra de milho e avanço na colheita de soja, o setor enfrenta uma pressão crescente: o aumento da inadimplência no agronegócio. Esse movimento tem preocupado bancos e agentes do mercado, dificultando o acesso a crédito e comprometendo a saúde financeira de toda a cadeia produtiva.
Neste artigo, vamos analisar os fatores que impulsionaram esse cenário, as consequências da inadimplência e as soluções fiscais que podem auxiliar na recuperação do setor.
O que é a inadimplência no agronegócio?
A inadimplência ocorre quando pessoas físicas ou jurídicas não conseguem cumprir suas obrigações financeiras no prazo acordado. Em termos práticos, trata-se do atraso ou não pagamento de dívidas, como financiamentos, empréstimos, contratos com fornecedores ou tributos.
No agronegócio, o problema surge quando produtores rurais, cooperativas e empresas deixam de honrar financiamentos agrícolas e linhas de crédito. O alerta se intensificou quando bancos observaram um salto nos índices de atraso, mesmo em um período de boas colheitas.
O efeito imediato é a restrição ao crédito, o que gera um círculo vicioso: produtores perdem credibilidade, instituições financeiras elevam exigências e o setor como um todo se torna mais vulnerável.
Principais causas da inadimplência no setor rural
Três fatores têm se destacado como determinantes para o crescimento da inadimplência:
- Queda no preço das commodities: reduziu a margem de produtores endividados, que contraíram crédito em um período de Selic historicamente baixa (2020 e 2021).
- Aumento das recuperações judiciais: desde 2020, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) permite que grandes produtores rurais — ainda que pessoas físicas — solicitem recuperação judicial.
- Medidas externas, como o tarifaço de Trump: a taxação de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os EUA atingiu fortemente o segmento de carnes, soja, milho e bovinos, criando riscos de estoques encalhados, cortes de produção e demissões.
Os impactos são expressivos: a inadimplência no Banco do Brasil alcançou 3,94%, totalizando R$ 404,9 bilhões em dívidas de cerca de 20 mil clientes. Segundo a instituição, 52% desse grupo está concentrado no Centro-Oeste e Sul, e 50% está ligado às culturas de soja, milho e bovinos.
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Consequências da inadimplência
A inadimplência no agronegócio gera impactos em diferentes frentes:
Financeiras
- Aumento da dívida: multas, juros e correção monetária encarecem o débito.
- Restrição ao crédito: dificuldade de obter novos financiamentos ou renegociar prazos.
- Comprometimento do score de crédito: prejudica futuras operações financeiras.
- Perda de bens: em situações extremas, a Justiça pode determinar penhora de imóveis, veículos e contas.
Legais
- Protesto em cartório: afeta reputação e gera custos adicionais.
- Ações judiciais: cobranças podem levar à penhora de bens e bloqueio de contas.
Execução fiscal: em dívidas públicas, a Procuradoria da Fazenda pode executar judicialmente o débito.
Mecanismos fiscais aplicáveis ao agronegócio
Diante do cenário de endividamento, soluções fiscais têm papel estratégico para garantir competitividade e oferecer alívio financeiro. Entre as principais estão:
Plano Safra
Principal instrumento de apoio ao agro, destinou R$ 516,2 bilhões à agricultura empresarial no ciclo 2025/2026. Oferece crédito para custeio, comercialização e investimento, com condições diferenciadas para produtores que adotam práticas sustentáveis.
Reforma Tributária
Entre os avanços, estão:
- Isenção de IPVA para máquinas, implementos agrícolas e aeronaves rurais.
- Estímulos a sistemas produtivos sustentáveis (ex.: integração lavoura-pecuária).
- Maior aproveitamento de créditos tributários, reduzindo efeito cascata.
Benefícios estaduais
Reduções de ICMS em energia elétrica, insumos e produtos destinados à exportação aliviam custos e ajudam no fluxo de caixa.
Tecnologia e rastreabilidade
Ferramentas como blockchain estão sendo usadas para dar transparência às cadeias de exportação (ex: carne bovina), agregando valor e confiança ao produto brasileiro.
PATEN: sustentabilidade e regularização fiscal
O Programa de Aceleração da Transição Energética (PATEN), criado pela Lei nº 15.103/2025, mobiliza recursos para projetos de baixo carbono.
Entre os mecanismos, estão:
- Fundo Verde: permite uso de precatórios e créditos tributários em projetos de energia limpa.
- Transação tributária sustentável: renegociação de dívidas atrelada a investimentos em biodigestores, biogás e painéis solares.
O agronegócio tem papel central no programa por sua relevância na produção de biomassa, biocombustíveis e energia renovável.
Reforma Tributária: impactos ao agro
A nova sistemática tributária traz benefícios, mas também desafios:
✅ Pontos positivos:
- Isenção para pequenos produtores (até R$ 3,6 milhões de faturamento).
- Cesta básica nacional com alíquota zero para 22 itens.
- Redução de 60% em alimentos e insumos agrícolas.
- Isenção de IPVA para máquinas e aeronaves do campo.
⚠️ Pontos de atenção:
- Alíquota estimada em 28% pode elevar em até cinco vezes a carga atual.
- Fim de isenções em sementes, adubos e biodiesel.
Lista reduzida de produtos essenciais na cesta básica.
O tarifaço de Trump e o risco às exportações
Desde 6 de agosto de 2025, entrou em vigor a taxação de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA. Entre os mais afetados estão café, carne bovina e frutas. Já o suco de laranja, castanhas e alguns tipos de celulose ficaram isentos.
Segundo a CNA, o impacto pode chegar a US$ 6 bilhões (R$ 32,8 bilhões), representando uma queda de 48% nas exportações em relação a 2024 (quando o setor exportou US$ 12,1 bilhões).
➡️ Veja a análise completa sobre o tarifaço de Trump
O que o futuro reserva ao agronegócio?
O agronegócio brasileiro segue como motor da economia, mas a inadimplência crescente revela fragilidades que precisam de atenção imediata. A combinação de queda nas commodities, aumento de recuperações judiciais e pressões externas como o tarifaço desafiam a saúde financeira do setor.
Nesse contexto, soluções fiscais, programas como o Plano Safra e o PATEN, e a própria Reforma Tributária podem oferecer caminhos para reduzir riscos, reorganizar finanças e manter o agro competitivo diante das transformações econômicas globais.
Regularização é um fator crucial na credibilidade de um negócio. Nesse sentido, a conformidade fiscal e ambiental ganha protagonismo. Empresas do setor que investem em práticas sustentáveis, transparência contábil e buscam a regularização como foco tendem a acessar com mais facilidade créditos, parcerias internacionais e mercados exigentes.
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